Este artigo faz parte do meu livro “Vivendo Melhor – Dito, redito e pouco aprendido” e já publicado neste editorial há alguns anos. Contudo, enquanto terapeuta, tenho observado que certas pessoas, ao atingirem posições hierárquicas maiores profissionalmente, passam a desdenhar de seus contatos, como que se escondessem em suas redomas. Pode acontecer por timidez ou por complexo de superioridade (leia-se inferioridade). Estes seres esquecem que a comunicação é a primeira necessidade básica do ser humano, e os apelidei de MOITAS. Alguns até se justificam devido à pandemia, mas quando escrevi este artigo, há mais de vinte anos, já acontecia a mesma coisa.
Confesso que não foi escrito direcionado para ninguém em especial; contudo, meu amigo leitor, fique à vontade para vestir a carapuça, caso se enquadre com você. O autoconhecimento é ainda a melhor das terapias, assim não tenha medo de se expor. A proposta é ajudá-lo a sair desta.
– Sabia que ia sobrar pra mim, Claudinei, só basta agora você dizer que eu também sou um ‘moita’!
– Isso com certeza você não é, você pode ser um ‘mala’, mas não um ‘moita’.
– Já tinha ficado feliz por não ser enquadrado na categoria ‘moita’, mas me sobrou o ‘mala’. Afinal do que você está falando, o que é ‘moita’ e o que é ‘mala’?
– Bom, quanto ao ‘mala’, vamos falar na próxima edição. Hoje quero falar sobre os ‘moitas’ da vida.
Na minha opinião, o ‘moita’ possui o pior tipo de comportamento que o ser humano pode ter. São pessoas que atravancam o progresso, irritam os colegas, atrapalham o dia a dia de todos que estão à sua volta, enfim, são pessoas inconvenientes.
– Poxa, Claudinei, ainda bem que eu sou ‘mala’, mas não sou ‘moita’.
– É que você não sabe o que te aguarda rs.
– Nem quero pensar. Mas explique porque o ‘moita’ é ‘moita’?
– Ok. Já deu para perceber que ‘moita’ é aquele indivíduo que não sai de ‘cima do muro’, não toma decisões para nada e com medo de desagradar, nunca diz não a nada. Sempre concorda com tudo, mas na maioria das vezes não cumpre o que promete por mais insignificante que sejam as coisas.
Você, meu amigo leitor, deve ter algum amigo ou conhecido que quer sempre agradar a todos e no final atrapalha mais do que ajuda; e eu pergunto, será que esse não é o seu caso também?
Se for, não se preocupe, a maioria das pessoas que possui este tipo de comportamento acaba sofrendo um processo de baixa autoestima muito forte e cria para si uma dissonância cognitiva.
– Espera aí, Claudinei! Já começou a complicar!
– Calma, vou explicar. Dissonância cognitiva é a reação de, na maioria das vezes, desconforto que você sente quando pode dizer ‘não’ para alguma coisa e diz ‘sim’ ou vice-versa.
Resumindo, pessoas que não conseguem dizer ‘não’ são pessoas pouco assertivas, ou seja, não possuem assertividade ou auto aceitação e daí a necessidade de querer agradar a todos.
– Eu sou assim, Claudinei, o que tenho de fazer?
– Quer dizer que você também vestiu a carapuça, meu amigo?
– É, cheguei à conclusão que além de mala sou moita, acho que vou me suicidar.
– Que é isso, não precisa ser tão trágico assim; saiba que, infelizmente, você faz parte de um universo enorme de pessoas que sequer desconfiam que são ‘moitas’. A parte boa é que o melhor remédio para este tipo de cura é a autoaceitação e uma vez você sabendo que é assim poderá mudar.
– Mas, fazendo o quê?
– Simplesmente dizendo ‘não’, doa a quem doer, mesmo que seja em você. Experimente, principalmente com os filhos, se os tiver. Um ‘não’ bem postado poderá significar a diferença entre sucesso e fracasso no futuro deles.
Claro que sempre devemos usar o bom senso e a lógica, não leve ao pé da letra e saia dizendo ‘não’ a tudo e a todos. Responda às suas mensagens, não deixe ninguém te esperando além do necessário e principalmente, tenha ética em tudo o que fizer e sempre tenha respeito com o seu próximo, não importando a ordem hierárquica.
Saia de cima do muro, viva e deixe os outros viverem.
Um forte abraço,
Claudinei Luiz