Aproveitando o gancho do editorial do mês passado, agradecendo o retorno fantástico que recebi de meus amigos leitores pela “reflexão” proposta e, atendendo a pedidos, resolvi seguir filosofando um pouco mais, mesmo porque é inquestionável, quando internado em uma UTI, querendo ou não, o pensamento da morte não deixa de se fazer presente. E, quando isto acontece, nossa mente procura mergulhar nos conhecimentos trazidos pelos estudiosos da vida, ou seja, os filósofos, e confesso que às vezes podem ser confortantes e alguns até paradoxais, a exemplo de um artigo que publiquei há algumas décadas.
Impossibilidade da possibilidade
Não tenho nenhuma intenção de tornar este editorial um tratado filosófico, mesmo porque não possuo conhecimento para tanto; contudo, às vezes me vejo questionando sobre temas que parecem ser inquestionáveis e até chego a pensar se não é ‘coisa da idade’, rs. Algumas vezes releio artigos que já escrevi e divago nos ensinamentos filosóficos, a exemplo do que se segue:
Quando se pensa em questionamentos sobre a vida, somos direcionados à filosofia existencialista, cujo principal representante dos tempos modernos, sem sombra de dúvida, é o filósofo alemão Martin Heidegger (1889–1976), célebre por sua obra inacabada: O Ser e o Tempo (1927).
Para Heidegger, “o homem é um ser que caminha para a morte”, e para você, caro leitor, que ainda não parou para pensar nisto, basta associar que o momento em que você nasceu é o mesmo instante que você começa a morrer. Evidentemente, quando comemoramos o nosso aniversário, na verdade podemos comemorar mais um ano vencido sobre os tropeços da vida, ou, então, a contagem regressiva para o fim dos mesmos tropeços.
Nenhum filósofo até hoje explicou a morte, mas todos buscaram uma forma de minimizar o período da espera da mesma, e por esta razão o “aconselhamento filosófico” se caracteriza, a cada dia, como mais uma modalidade de terapia. Neste contexto, Heidegger diz que a relação do homem com o mundo se concretiza a partir das inquietudes de preocupação, angústia e complexo de culpa, entre outras, e que a terapia é tentar “saltar”, e assim fugir de sua condição cotidiana, para atingir o seu verdadeiro “eu”.
– Poxa, Claudinei, desta vez você está tétrico mesmo! Só fala em morte.
– Desculpe, você tem razão, principalmente porque a nossa proposta é qualidade de vida. Contudo, o tema é paradoxal porque a vida somente existe, porque existe a morte; aliás, é o mesmo conceito de felicidade, pois, se não conhecermos a infelicidade, será difícil saber quando estamos felizes.
Para terminar e não estendermos mais o assunto, e acreditando ter ouriçado um pouco mais a mente de vocês, concluo dizendo que, de fato, todos temos medo da morte; segundo Heidegger, viver é enfrentar o limite da possibilidade, porque para ele “a morte é a impossibilidade de qualquer possibilidade”.
Ufa! Chega por hoje. Agora você pode continuar folheando a Revista, porque daqui para frente só mostramos coisas boas da vida.
E quanto a vocês, mamães, desculpe não comemorar o “Dia as Mães”, mesmo porque, para mim, todos os dias do ano são seus.
Um forte abraço, com infinitas possibilidades.
Claudinei Luiz