À frente da Maximu’s Embalagens Especiais, ele dá aula de fé e criatividade.
“Plástico foi amor à primeira vista”. Não fosse assim, talvez não estivéssemos contando a história deste andreense que, pelo jeito, nasceu com o dom de ‘antever’ e… ou… para empreender. Com foco.
Era uma vez um menino de 14 anos que prestou exame no SENAI, em São Bernardo, foi aprovado e ali começou a fazer os cursos de Eletricista de Manutenção e Manutenção de Máquinas Industriais. No contraturno, em Santo André, fazia colégio técnico, cursando Eletrônica. Pelos anos seguintes seguiu em ambas as formações e, em paralelo, investiu em outras várias capacitações, inclusive na área de informática, que aprendeu “mais por curiosidade”. Marcio conta que, no último ano do colégio técnico foi cumprir estágios, inclusive um deles em uma loja onde montava computadores, até que um dia foi designado para montar e instalar os equipamentos e dar algum treinamento em uma empresa de embalagens. “Foi aí que começou minha história nessa área”, lembra ele. Posteriormente, acabou sendo efetivamente contratado para ampliar seus serviços, instalando uma rede de computadores e até implantando um sistema da gestão do setor.
Encerrada esta fase, Marcio Grazino – é o nome dele – conta que, com o tempo, foi convidado para ampliar os seus serviços na empresa, passando por outros setores – “e sempre aprendendo”, até que desembocou no departamento comercial. “E foi em Vendas que ampliei ainda mais meu conhecimento e os diversos processos de trabalho executados dentro de uma fábrica, o que me permitiu ter uma visão global de um empreendimento”, diz ele, que ainda contratou para ajudá-lo um amigo de infância que, mais tarde, se tornaria seu braço direito. Mas, enfim, foi com pouco mais de 20 anos, que decidiu que tinha chegado a hora de partir em busca de realizar o seu sonho, iniciando a história da Maximu’s Embalagens Especiais, com… plástico que, afirma, entrou na sua vida por acaso.
Hoje, 21 anos depois, quem acompanha a mídia ou as redes sociais, certamente já viu alguma notícia ou reportagem sobre sua indústria e o seu trabalho, e, especialmente, sua criatividade, que vem chamando atenção nacional e internacionalmente.
DA REDAÇÃO
“De todos os desafios possíveis, penso que enfrentei todos (risos). Ninguém acreditava, ninguém queria dar crédito, os bancos não queriam abrir contas, enfim, portas fechadas. Assim, foi mesmo com muita coragem, algum dinheiro que tinha amealhado e com a escritura da casa dos meus pais nas mãos – garantia exigida pelo locador e a qual o pai nem piscou para a colocar nas minhas mãos -, que aluguei meu primeiro galpão: 400 m², em Santo André. Contando só com a fé do meu pai, metalúrgico, e da minha mãe, os únicos que, apesar de todas as adversidades acreditaram em mim, fui em frente. Essa lembrança me gratifica e comove até hoje”.
Foi assim que começou a história da Maximu’s Embalagens Especiais, fundada por Marcio e que o levou, nestes últimos 21 anos, a inovar ininterruptamente e só crescer. As atividades foram iniciadas em Santo André e, em 2006, após a escritura da casa ser devolvida ao pai, a empresa acrescentou um pequeno galpão em Ribeirão Pires, onde dividia a fabricação de sacaria e calços. Em 2009, buscando mais espaço e melhores condições, Marcio unificou as duas unidades em um local maior, totalizando atualmente 12 mil m² na mesma cidade. Mas, não vai parar por aí: para os próximos dois anos (2025/2026), há outros planos de ampliação.
Com duas fábricas na mesma planta, em uma parte são produzidos calços de polietileno expandido para embalar peças da indústria automotiva e outros equipamentos delicados para outras áreas. Um exemplo: as urnas eletrônicas, na eleição passada, foram embaladas com os produtos da empresa. “Hoje somos líderes em empresa de manufatura de embalagens plásticas em polietileno expandido e plástico bolha”, explica ele, deixando claro que a Maximu’s ocupa um nicho pequeno no mundo do plástico.
A outra parte da indústria está voltada à sacaria, produzindo de sacos de polietileno expandido a sacos de plástico bolha. Totalmente verticalizada, Marcio explica que o processo começa com a compra de grãos de polietileno para a fabricação do produto final, e com total aproveitamento das aparas. “Aliás, todas as sobras, tanto de uma fábrica como da outra, vão para o centro de reciclagem dentro da nossa própria empresa e são reutilizadas dentro do seu próprio processo industrial. E é exatamente isso que vem chamando a atenção de inúmeras outras empresas, que também ‘sofrem’ com a questão ambiental em função do descarte de toneladas de aparas, dando abertura a um terceiro negócio dentro da Maximu’s, com a possibilidade da logística reversa oferecida aos clientes”, fala.
Antes e depois
Marcio diz que hoje considera a empresa em dois tempos: o antes e o depois de 2018, com a chegada efetiva da tecnologia, estando, desde então, mais conectada, mais produtiva, se comunicando melhor e mais ainda: adequada a todas as normas. “Hoje, quem não investiu em tecnologia ou não continua investindo, provavelmente está fadado ao fracasso e, aqui, não foi motivo para demissão. Pelo contrário, não só não demitimos, como contratamos ainda mais colaboradores e os capacitamos para poderem produzir mais e com mais qualidade. É notório como isso mudou os caminhos da empresa”.
Um parêntese para o plástico
E este é bem interessante, porque, apesar de todas as restrições ao produto em função dos malefícios causados especialmente ao meio ambiente, Marcio diz que costuma falar que o grande vilão não é o plástico, mas a falta de educação e de informação, em boa parte do planeta. “As pessoas devem saber que o plástico pode ser reciclado inúmeras vezes e reutilizado, inúmeras vezes. Sozinho, por exemplo, ele não vai parar no meio do oceano, ou em qualquer lugar. Alguém o descartou lá, alguém não cuidou deste manuseio e descarte de forma correta. O que falta é a educação, que é o caminho. E nós, na empresa, estamos muito focados nesta questão, inclusive passando este conceito para os nossos clientes, em variados segmentos”.
O empresário explica que a tendência das embalagens, hoje, é a utilização de um plástico mais sustentável, vindo de fontes renováveis, um plástico biodegradável, um plástico vindo de logística reversa, de reciclagem. “Mas, para que tudo isso aconteça, é essencial conscientizarmos as pessoas de que devemos fazer o manuseio e o descarte corretos, para que ele possa ser reutilizado corretamente”.
O Marcio, como ele é
Não dá para iniciar este capítulo sem falar de Erick Henrique Carvalho de Souza, como já dito, amigo de infância, companheiro em Vendas na indústria de embalagens, mas, muito mais que isso: parceiro e coadjuvante desde a primeira hora na Maximu’s, outro que, além dos pais, acreditou piamente no sonho do amigo. Além de comandar a área de Vendas da empresa, Erick também é sócio de Marcio na filial da Maximu’s Embalagens Especiais em Varginha – Minas Gerais.
Mas esta história tem outras nuances. Para começar, Marcio afirma e reafirma que o SENAI foi a melhor coisa que aconteceu na vida dele. “Mais do que estudar e conhecer uma profissão, foi lá que aprofundei definitivamente valores como ética, respeito e espírito de equipe, que aprendi com os meus pais. Indo além, foi lá que me tornei um adulto precoce, com consciência de disciplina e de metas a seguir. Penso que foi neste período que decidi ser um empreendedor, ainda que na época não soubesse disso”.
Marcio é casado há 21 anos com Mariana, sua parceira de trabalho e que “segue firme como uma mulher guerreira, se dividindo entre a empresa, ser mãe de três e esposa. Ela cuida da área financeira junto com a Deborah Olimpio, que era nossa menor aprendiz, pagamos a faculdade dela e hoje é nossa controller, cuidando de vários setores estratégicos da empresa com sua equipe, como planejamento de fábrica, por exemplo”, conta.
Pai de Leonardo, 18 anos, sonhava para o filho a carreira de médico, que sempre louvou e respeitou. Mas, no contrapé, ouviu do rapaz – do alto de sua juventude e irreverência -: ‘Pai, não vai rolar. Quero mesmo trabalhar, seguir seus passos, ser empreendedor como você’. Compreensível. Desde muito pequeno, o garoto acompanha a família na fábrica onde, além da mãe, os avós também atuam desde o início. “Os avós se negam a se aposentar, querem trabalhar todos os dias na fábrica como todos os outros colaboradores, dizem que isso faz muito bem a eles. A realização do sonho de ter um filho ‘doutor’ fica mesmo para os gêmeos Lucca (‘com dois ces, senão ele fica bravo’) e Laura, de sete anos. Quem sabe?”
Enquanto isso, o empreendedor reflete muito sobre o papel da família. “Com o tempo, entendi que ser empresário não é fácil. Mas entendi, também, que ser família de empresário é ainda mais difícil, porque ela fica ali, à mercê de um marido, um pai, ou um filho que não tem hora para chegar em casa, ou está viajando, hoje aqui, amanhã lá, dando conta de compromissos que nunca acabam”. Aliás, quanto a isso, e já perguntado quando pretende parar, ou pelo menos desacelerar, é enfático: “no tempo de Deus”.
No mais, enquanto profissional e ‘patrão’, Marcio diz que liderança, para ele, é coisa natural. “Na empresa não tenho computador, resolvo tudo pelo celular. Aliás, nem mesa eu tenho: ora estou sentado com alguém da equipe, ora ao lado de um colaborador em uma máquina, ora manobrando caminhão no pátio, como outro funcionário. O que importa é a ação e compreensão de cada um de nós quanto ao que significa a palavra liderança. É importante, sim, conduzir com firmeza, mas, ao mesmo tempo, com simpatia e espírito de equipe, e não de forma impositiva. Sou líder até nato, diria, mas ao lado deste papel, meus colaboradores sentem que estão convivendo com um colega de trabalho. O fato é que, assim, tudo flui de modo muito melhor”, diz ele, confessando ser um apaixonado por estratégia e gestão. Ele pontua que para um empreendimento dar certo, a pessoa tem que começar acreditando em seu próprio produto, nas pessoas ao seu redor, com profundo respeito a todas elas e mais: ter a competência para motivar a todos, não importa o tamanho da empresa – por sinal, hoje com 51 funcionários. “O fato é que gosto muito de ficar com o meu time. Acredito em gestão participativa. Ser ético, profissional, ter a capacidade de trabalhar em equipe, é fundamental para qualquer trabalho dar certo”.
A inspiração diária
Fazendo um balanço sobre sua trajetória, até agora, Marcio diz que o que mais o inspira, diariamente, é a consciência da possibilidade de transformar a vida das pessoas. “O empreendedorismo muda a vida das pessoas e eu acredito, como empreendedor, que posso fazer essa diferença na vida delas. Eu falo que minha missão é gerar empregos, fazer com que, de alguma forma, uma pessoa possa prosperar na sua vida. É isso o que me inspira e motiva todos os dias”.