Domingo anoitece e já se precipitam vários pensamentos sobre as tarefas a realizar na semana que se inicia. Durmo mal. Acordo cansado na segunda, checo as mensagens, cuido da família, trabalho, vou à academia, sigo nesta sequência de tarefas, sem pausa…
A caricatura descrevendo nossa rotina pretende apontar como nos tornamos seres hiperativos de multitarefas, devendo sempre estar dispostos a realizá-las com alta performance e atenção aos estímulos vindos das diversas informações recebidas do ambiente, do fluxo contínuo de mensagens, das redes sociais.
Atualmente, a ansiedade é de longe o mais comum sintoma mental, manifesto pelas preocupações excessivas, desatenção, cansaço, a síndrome de Burnout, quando o esgotamento é relacionado ao trabalho, insônia e a sintomas depressivos secundários. A ansiedade excessiva faz a pessoa ficar em estado de alerta contínuo, com ideias catastróficas sofre o futuro, ou seja, um cenário negativo, que “rouba” energia e entristece. E esta é muito mais um reflexo do ambiente em que vivemos, através de nosso estilo de vida do que da carga genética que herdamos.
E quando a ansiedade passa a caracterizar um Transtorno Ansioso? Frequentemente, diante de uma conjuntura de vida onde as pressões superam o que conseguimos assimilar e responder, levando a ansiedade a uma intensidade tamanha, que paralisa a pessoa e não lhe permite mais se manter ativa. Mas se, habitar este mundo acelerado é o que nos resta hoje, há algo que podemos fazer para tentar moderá-la?
Vivemos em uma sociedade que transfere a responsabilidade pelo bom desempenho muito mais à pessoa e menos à comunidade. Incorporamos valores onde a eficiência e a utilidade valem mais que o bem-estar e enaltecemos a produtividade, o alto desempenho, a autossuficiência, sem perceber que acabamos explorando a nós mesmos. Aí, além da sobrecarga pela solidão diante dos deveres, corre-se o risco de, diante de uma falha, todo o peso do fracasso recair sobre a pessoa, culpada. Ora, precisamos mesmo atender a todas demandas que nos chegam? Não podemos priorizar e selecionar o que de fato importa? E, ainda, aprendermos a contar com a ajuda de outros?
Esquecemos do velho ditado “uma andorinha só não faz verão” e incorporamos a ideia que podemos tudo fazer, um poder ilimitado, e que o dizer Não, seria um sinal de incompetência.
Lembremos que somos um ser social, somos parte da natureza, da Cultura e precisamos do envolvimento afetivo e da troca de experiências para nos assegurarmos de nosso valor como seres humanos que somos, o qual não está condicionado ao que produzimos. Ou seja, nossa identidade não é medida por nosso produto. Podemos sair da passividade e resistir aos estímulos intrusivos e opressivos, desenvolvendo a potência de não fazer, dando lugar ao refletir, contemplar e compartilhar a vida.
A pausa nunca foi tão necessária para fazermos o tempo parar, subjetivamente, permitindo a percepção e o regozijo de nossas vidas, no instante presente.
Dra. Sheila Hauck Barbosa é psiquiatra, com pós-graduação em Psicanálise; mestrado em Psicologia e especialização em Psicogeriatria